A MÃE

 




Sentia um misto de orgulho e vergonha. 

Era eu a criança e ela, a mãe, é que vinha até a  sala com sua crônica A Rua dos Coqueiros, de modo pueril a exibir-se para receber seu quinhão de elogios.

Lia como uma estudante a recitar um texto a frente da mestra para ser aprovada. E era. 

Os sorrisos, os elogios a enchiam de contentamento. 

E lá ia guardar seu tesouro, para a próxima apresentação.


Seus olhos brilhavam, quando contava as peripécias da infância. 

E eu, ainda criança, ficava a imaginar que infância teria sido, a conduzir às escondidas a carroça do leiteiro, enquanto este ficava de prosa com a mãe, a sua.


E tinha um certo orgulho, uma vaidade ingênua a dizer as malandrices que aprontava e que os olho atentos da mãe, a sua, de pronto a buscavam para a proteção do lar. Não deixavam que a batessem, as outras crianças da rua, ralhava com elas. 

Parecia sentir uma ternura misturada com a doçura de sentir-se cuidada. 

E quando contava que saía de chapéu e luvas, a acompanhar a mãe, a sua,  para uma ida ao centro da cidade! 

Ah, o centro da cidade, lugar mágico onde coisas diferentes aconteciam.. onde ia de bonde, entre tantos chapéus e outras tantas luvas; e cortar o cabelo era um acontecimento que preenchia a tarde toda de um dia.


E ficava eu a imaginar, ainda criança, que infância teria sido, a minha.

01h43.

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