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TRÊS MARIAS E O PANETONE

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AS   TRÊS MARIAS - SÓ FALTA O PANETONE      Quando cheguei, o leito que me coube foi o mais distante da janela e da porta que abria para uma enorme varanda.                No leito ao lado mesmo da janela havia uma senhorinha idosa, pra lá de 80 anos. Já estava ali há mais ou menos um mês antes de eu chegar. Era de uma cidadezinha pouco distante de Cortina D’ampezzo, onde estávamos.           O quarto era grande e bem iluminado, a vista da varanda era mesmo espetacular: montanhas de cores que mudavam com o dia, às vezes muito verdes, outras, gris, à noite, fantasmas sob a neblina.             Era verão, então os dias, quase que invariavelmente, eram ensolarados e as vidraças filtravam os raios do sol que inundavam de luz o espaço.                   Para mim era uma verdadeira magia.     ...

SEIS PONTO CINCO

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  SEIS PONTO CINCO                Sessenta e cinco anos. Foram chegando devagar, como uma nuvem que se vê bem ao longe. Sabe-se que, quando chegar perto, vai acontecer algo, chuva, trovoadas, tempestade…                 Assim foi. Os sessenta aconteceram da noite para o dia. Entrei na sexta década e assustei-me. Os amigos, já sexagenários me acolheram como se entrasse em uma seita. Confiei e instalei-me.            Hoje acordei com 65 anos completados. Mas já há tempos vinha observando a nuvem ao longe.       Experiências novas com meu corpo, algumas não muito boas, novas dores, câimbras, hipertensão… cansaço.           O caminho do envelhecer é estranho, é novo, ao mesmo tempo vemos todos os dias vários exemplares a nosso redor, um percurso previsível.          Secretamente, nutria um cer...

REFLEXÕES DE UMA APRENDIZ

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REFLEXÕES  Aeroporto de Palermo 27 agosto 2023 Fora, o movimento intenso   Os ruídos, sem cessar,   Passam como o vento   Que só deixa um leve rastro. Perto, um piano faz vibrar uma energia fresca Cessa. E o ruído invade o ar, mas continuo refugiada  no espaço quieto dentro de mim. Meus olhos se agradam das belezas além das janelas. O silêncio também está lá Na força telúrica das montanhas Na pequenez das vivendas Na fragilidade do homem.          Tudo coexiste. Convive. Entrelaça-se.          Pares de olhos físicos, atentos ao que vêem.. Por onde andarão suas almas? Que consciência estará desperta?   Neste momento tão distante que estamos da sabedoria dos Grandes Iniciados! Que mundo é este revestido de matéria tão dessa que barra a ascensão do espírito?    Desafio constante libertar o espírito sem abandonar o corpo fisico,            nutrir a alma sem negligenciar a ...

SOU TUA MÃE

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  Cotidiano.   Agita-me.   Meus pensamentos precisam ser rápidos   para as respostas em várias direções.   Minh’alma desconexa-se. Assusta-se com esse vazio que resta. Nao consigo me aproximar. Você está aqui, a 2 metros e sinto-me distante. A fala vem como uma defesa ridícula, bizarra. Sempre a fala que mais afasta. Você sai e eu calo. O silêncio se faz silêncio em mim e minh’alma chora. Chora a perda do abraço que poderia ter sido Do olhar no teu olhar. Do entendimento sem nada dizer. De ser mãe.    Ah como me falta ser mãe. Como é difícil alcançar-me, alcançar-te. Perdoa tanta repetição do mesmo erro. Da mesma dor. O vazio grita e a dor que dilacera é a mesma que quero Que me rasgue,  Que me marque para que eu jamais esqueça de ser. Sou tua mãe. 21 JUNHO 2024 OEIRAS

CARTA A UM AMOR DESCONHECIDO

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  Carta a um amor desconhecido Q uando meu coração te encontrar, saberei que és tu o   meu amor.  Nossos olhos tocar-se-ão.  Perderei meus olhos nos teus, tu perderás os teus, nos meus.  Terás o cabelo quase liso, já marcado com a garoa do tempo,  e teu rosto também trará as marcas da vida e ainda assim será belo.  Teus lábios, um pouco secos, me dirão que amas o vento  e tua pele será prova de que amas o sol.  Teu cheiro será agradável para mim. És mais alto que eu.  Um pouco.  Traz nos olhos o azul do céu, ou o esverdeado das águas do mar.  Poderão também ser castanhos, os teus olhos.  Não importa, amarei teu olhar mesmo assim. Tu amas a vida e amas vivê-la intensamente.  Gostas de cantar, de dançar no meio praça,  se assim quisermos,   tens prazer em conversar e olhar nos olhos.  Teu amor à vida é como o meu.  Não precisamos dizê-lo.  Sentimos. Gostas de aprender.  És um eterno apren...

SAUDADES DE PORTO ALEGRE

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  SAUDADES DE PORTO ALEGRE? Claro.... ah saudades.. Do vento do lado de cá Das frutinhas e ervas selvagens Do cheiro do maricá. Dos longos passeios de bike Nos domingos ensolarados Em que os ambulantes cansados Sentados e sonolentos Ao longo da ciclovia Cantam sua cantilena ou Deambulam nos pensamentos   Saudades também da brisa Fresca da zona sul e saudades também do céu, que, francamente, aqui é muito mais azul. 14 de março 2015 19h12

A AMIGA DA MINHA MÃE

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                       A AMIGA DA MINHA MÃE           Depois de muito adiar, decidi por em prática a limpeza do chão da cozinha. Demorei para por-me em ação porque teria que escovar ajoelhada e não estava segura de que meus joelhos apreciariam tamanho desconforto.           Munida do necessário e da determinação, mais importante que tudo, pus-me de joelhos, produto no chão e escova na mão. Comecei a esfregar com vigor o piso, especialmente, entre as lajotas.   Quando realizo trabalhos assim, solitários, minhas memórias são ativadas, memórias tão distantes, quanto mais for primitivo o trabalho. Sim, escovar o chão no século XXI é algo primitivo. Minha avó o fazia com frequente. Era assim naquela época.             Movimentando a escova com força para frente e para a trás, pensei na amiga da minha mãe. ...